Deu tudo errado para mim na última etapa do Troféu Brasil de Triathlon em Santos. Fui para Curitiba na quinta-feira e só voltei no sábado a tarde. Com isso minha preparação normal foi pro espaço. Normalmente o dia anterior a prova é de descanso. Sem caminhar muito, hidratando bastante, alimentação controlada, etc.
Meu sábado não foi de pré-prova. Comecei as 8:00h com um exame ergoespirométrico em Curitiba, junto com meu irmão. Esse assunto merece um post inteiro essa semana, então falarei outra hora. Após isso, feijoada na casa do meu outro irmão (somos quatro, ainda não citei um), o Marcelo. Pense bem, feijoada um dia antes da prova! Após isso avião, pegar o carro em Guarulhos, engarrafamento na marginal por causa das obras nas pontes e chego em casa. Aí preciso preparar tudo pro dia seguinte, pois tenho que sair as cinco da manhã pra dar tempo de chegar bem a Santos.
Cheguei a essa etapa em terceiro lugar na categoria 40-44 anos, neste campeonato que tem seis etapas. Como já tinha usado um dos descartes a que tenho direito, precisava fazer uma boa prova pra manter minha colocação ou tentar algo melhor. A estratégia para provas curtas é muito bem definida - Força na natação; torcer o cabo na bike e ir pra morte na corrida... era isso que tinha que fazer.
O mar tava enorme. Não acho ruim. Como sempre gostei de surfar, as ondas não me intimidam. Muita gente fica desorientada com mar grande, mas não achei ruim. Cheguei a primeira bóia entre os primeiros e na segunda também, não sei porque fiquei um pouco pra trás depois da segunda bóia, mas até aí tudo bem. Num dado momento fui pegar um jacaré para ir mais rápido e achei que estava fundo. O que aconteceu? Dei um chute enorme na areia. Achei que tinha quebrado o dedo do pé na hora. Que dor! Pensei comigo, deixa de frescura e vai em frente. Como não tinha opção mesmo continuei nadando.
Na transição para a bike o dedo doía mais, e começava a inchar bastante. Pulei na bicicleta, saí pedalando e não conseguia fazer a puxada com o pé esquerdo. Quando ia pedalar pra cima com esse pé, a dor era enorme. No fim da etapa do cicliesmo, tirei o pé da sapatilha e ainda pedalando comecei a ver o estrago... era grande. No lugar do meu dedão do pé esquerdo tinha uma massa roxa e preta que lembrava vagamente um dedo.
Novamente na transição e fui colocar os tênis de corrida. Não entrava. Tive que soltar os elásticos, sentar no chão - pense bem, sentar no chão numa transição de prova curta - e colocar o pé bem devagar. Ao sair da transição tentei correr por duas vezes, mas não conseguia. Como a barraca da MPR fica logo na saída, o pessoal de apoio da equipe já veio me perguntar o que estava acontecendo. Em seguida chegou um staff da prova de bicicleta e falou que me acompanharia pela corrida. Isso me deu a segurança que faltava. Só pensava que não podia abandonar a prova. E aí ficava a dúvida. Se o dedo estiver mesmo quebrado, isso pode comprometer a prova de caiobá na próxima semana ou mesmo me impedir de correr. Por outro lado se não estiver, é só uma questão de aguentar a dor por um tempo.
Comecei a correr devagar. Justamente no esporte que tenho mais facilidade, estava indo bem devagar. Com o tempo fui aquecendo, a corrida foi soltando, aprendendo como compensar a passada para doer menos e quando vi já estava num ritmo bom. Fiz o retorno e comecei a entrar num ritmo mais próximo do que faço em treinos longos. Assim quando vi já estava quase na chegada. Normalmente faria a corrida de 5km para 19 minutos, acabei fazendo para quase 23, mas tudo bem. Fiquei em sétimo na etapa e acabei o campeonato em segundo lugar.
Durante toda a corrida lembrei do meu compromisso com o Triathlon Por Uma Causa. Que não poderia abandonar a prova por um simples dedo quebrado ou não. Novamente a sensação de completar essa prova foi especial. Superar as dificuldades, improvisar, fazer um pacto com o corpo e pedir sua ajuda durante um tempo são essenciais nesse momento. Uma prova de triathlon exige concentração e você aprende a conhecer seu corpo de uma maneira muito íntima.
Deu tudo errado, mas no final, com um pouco de esforço, muita determinação, e uma inspiração enorme no projeto da Abrale, consegui ir muito além do que imaginava nesse final de campeonato. E só pra constar, o dedo não estava quebrado, mais alguns dias e acho que já volto a correr. Caiobá ainda é uma dúvida, mas acho que vai dar.
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