Que cidade linda!
Não tenho como começar de outra maneira. Adoro minha cidade e quanto mais tempo passo longe dela melhor fica a minha visão de suas qualidades - talvez não veja os defeitos mais como qualquer um que não experimenta o cotidiano.
Vou falar de uma Curitiba de domingo de sol, que começou as 8:00 da manhã para um treino longo de corrida - 23km pelas ruas da cidade. Objetivo de fazer um treino apenas girado, confortável para fazer quilometragem. As vezes precisa. Não há necessidade de fazer força e depois dos 150km de bike do sábado na ciclovia da marginal Pinheiros com 6km progressivos de corrida, bem que eu estava precisando de um treininho leve.
Na noite anterior, conversando com meu irmão Marcelo, triatleta da época das sungas e bikes de aro 26, ele me deu uma dica de um percurso de 20km saindo da casa dele. Adoro sair treinando da porta de casa, é mais fácil e economiza tempo. Único problema logístico seria a hidratação e como não gosto de correr com garrafas na mão nem de cinto de hidratação levei dinheiro para comprar água em algum lugar.
Dica: sempre que for sair para treinar sozinho nas ruas tenha sua CNH, cartão do seguro saúde e pelo menos R$ 50,00 para uma eventual emergência. Na melhor das hipóteses de uma emergência você pode torcer o pé e precisar pegar um taxi.
Iphone ligado, fones na orelha, Chickenfoot tocando, lá vou eu.
Começo pelo Jardim Social, bairro onde morei dos 5 aos 17 anos e que meu irmão mora agora. A cada esquina uma lembrança de infância, amigos, fatos, episódios que nunca mais tinha lembrado e vinham voltando a minha mente. Não olhei pro GPS no primeiro km e me surpreendi com o ritmo tranquilo que estava fazendo. Saindo do bairro pela Av.Nossa Sra da Luz vejo uma multidão correndo. Opa, tem uma corrida de rua, é aqui mesmo que vou entrar, assim tenho companhia e quem sabe ainda consigo minha hidratação. Estranho, só tem mulher correndo, pergunto e me informam que é uma corrida de 6km da prefeitura em comemoração ao dia das mulheres. Não vai adiantar, a distância é curta e achei a corrida no seu final. Acompanho pela Itupava e começo a ouvir alguém me chamando. Alguns namorados de corredoras vestiram-se de mulher para incentivar, de perucas, bermudas justas e maquiagem. Me senti numa versão atlética de Priscila.
Segura o bofe!!! Ele corre muito rápido!! Gatoooo!!!! Gargalhadas de todos os lados, parei e tirei fotos com as mulheres e as nem tão mulheres. Com isso dois quilômetros voaram.
Entro a direita na ciclovia e acompanho o trilho de trem. Mais adiante passo ao lado do Graciosa e lembro de nossas partidas de golfe. Passo ao lado do green do 5, green do 1 e finalmente driving rage e a casa do meu rmão Alcy, triatleta de primeira, treinando para seu primeiro iron, infelizmente não vamos correr juntos nesse dia, mas estarei em floripa para acompanhá-lo na linha de chegada,
Continuo pela ciclovia e as coisas começam a ficar estranhas. De uma hora pra outra não sei onde estou, nunca andei por alí. O Marcelo disse para seguir até uma descida forte que levaria ao parque São Lourenço. Bela descrição, mas vamos lá. Quando já estou muito além da distância que achava ser razoável para achar a tal descida vejo uma placa orientando para Almirante Tamandaré (isso é outra cidade para quem não é de Curitiba) e Barreirinha. Que faço agora? Estou com quase 9km e devo tomar uma decisão: ou vou mais 2,5km e volto pelo mesmo caminho ou acho o caminho certo. Resolvo sair da ciclovia numa placa que dizia Ópera de Arame. O teatro Ópera de Arame é próximo ao São Lourenço, com sorte chego lá, e se não chegar aproveito para visitar o local da minha formatura da faculdade.
De repente a rua começa a descer forte! acertei sem querer e chego no parque. Então vamos lá. Parque cheio, muita gente correndo, bicicletas e um clima de verão muito agradável. Ninguém atropela ninguém. As bicicletas na faixa delas e os corredores e caminhantes na sua. O gente civilizada, como é bom estar aqui. Saio do parque com quase 11km e está na hora de pensar na água e tomar um gel.
Na Mateus Leme, ainda na ciclovia, em direção ao Bosque do Papa. Curitiba recebeu uma grande quantidade de Poloneses e Ucranianos. Por conta disso e em homenagem a visita do Papa João Paulo II em 1980, foi feito um parque que tem algumas casas típicas em troncos dessas colônia de poloneses da região metropolitana de cidade. O paisagismo foi idealizado por Burle Marx. Em uma dessas casas, que formam um memorial da cultura polonesa, foi rezada uma missa pelo Papa.
Passando pelo centro cívico, começo a procurar algum lugar para beber uma água e nada. Os quilômetros começam a passar e a paisagem também. Passeio Público, Rua Mariano Torres, e nada de água, tudo fechado. Quase na rodoferroviária encontro um pequeno bar e com 15km de corrida tomo uma garrafa d'água e um GU.
Continuo, passo em frente a rodoferroviária em direção ao Jardim Botânico. Uma volta por lá e volto para a Av.Nossa Senhora da Luz. Passo pela caixa d'água e do outro lado da rua o hospital das Nações. Acho que é esse o nome. Local onde um amigo, o Patrick faleceu após lutar contra um tumor no cérebro, que ele e o pai diziam que tinha o tamanho de uma laranja. Numa das últimas visitas que fiz, uma das cirúrgias acabou por retirar a memória curta dele, um fato triste, pois em uma visita ele me agradeceu e deu oi uma dez vezes, pois não registrava mais nada na memória. Lembrava de mim, mas não que tinha me visto a dois minutos, triste.
Após isso entro novamente no Jardim Social, pelo Pão de açúcar. Essa entrada do bairro sempre foi importante pra mim. Tenho três irmão mais velhos, entre cinco e nove anos de diferença. Uma das coisas que mais sonhava na minha infância seria o dia que entraria no bairro dirigindo meu próprio carro e fazer como eles faziam. Por algum motivo eles pegavam a descida e colocavam o carro em ponto morto e iam até em casa dessa maneira. Não sei bem se era pra economizar combustível ou uma grande piada, mas eu não via a hora de fazer isso também. Nunca consegui, pois acabamos nos mudando quando tinha 17 anos. Quando você tem dez anos de idade, tudo que seus irmão de 19 e 18 fazem é o máximo, ficou uma frustração. Mas calma, nada que vá me causar sequelas graves na vida.
Nesse momento estou chegando e a maior lembrança era das corridas com o Marcelo. Eu tenho a impressão que ele me usava para impressionar as meninas, mas quem vai saber. Levar o irmãozinho pra treinar é uma forma bem esperta de mostrar que é um cara legal. E ele é mesmo. O fato é que com uns onze ou doze anos começamos a fazer corridas pelo bairro e eu acompanhava sempre o ritmo dele, isso me criou uma base muito forte de treino e a partir daí a corrida em maior ou menor intensidade sempre esteve comigo.
Como é bom treinar em casa, agora estou no aeroporto voltando para São Paulo, com saudades e feliz pelo fim de semana. Mas que ninguém fique chateado comigo, adoro São Paulo também, é a cidade que me recebeu e continua me recebendo bem.
Foram 23,4 km, 23 deles em ciclovias, sem passar pelo mesmo ligar duas vezes. ritmo de 5:03 min/km e tempo total de 1:58horas de treino. Gostei, o batimento médio não passou de 155, objetivo alcançado.
Fui... com memórias e mais memórias