Segunda parte do relato da Maria Ritah sobre a Badwater Marathon.
"Em Las Vegas, o calor sufocante começou a me dar medo. Dois dias depois fomos para o deserto local da prova. No caminho comecei a vislumbrar o que poderia ser minha aventura naquele deserto, comecei a me questionar. – Será que quero mesmo passar por isto? Tanta prova linda, boa e mais barata pra eu fazer.
No dia do Congresso Técnico meu questionamento aumentou. Observava atentamente os ultramaratonistas como se eu estivesse num experimento científico. Em Funece Crew, o calor aumentava, o vento quente ardia meus olhos garganta e feria meu nariz. Até pra respirar era complicado numa temperatura de 55 graus. Nem a noite aliviava a sensação de falta de ar.
A caminho do local da largada. A paisagem do lugar era meio sinistra de tão cinza, sem cor, mas nem por isso encantadora. Estávamos abaixo do nível do mar. Ouvi um colega dizer que aquilo tudo era o mar que secou, na área batida e misturada com sal víamos a sequidão do lugar.
Depois de fotos e registros, a emoção da corrida começou. Nos primeiros 30km o atleta obrigatoriamente deve correr sozinho e sua equipe dar assistência em banho e água, sob pena de punição caso seja pego correndo com o atleta.
Este começo foi um dos momentos mais emocionantes, porque pude assistir de camarote a correria, a paisagem, a corrida sob forte condição climática. Estes quilômetros parecem que não acabam nunca e nesta parte da corrida começo a digerir o que seja Badwater.
Monica corria bem a despeito de ser uma ultramaratonista com histórico de câncer e diabete. Minha preocupação era com sua hidratação e controle da glicemia que estava a cargo de um outro integrante da equipe. A noite, o cansaço e o sono eram uma luta constante. Mesmo eu que era pacer, sempre me beliscava para não apagar enquanto estava na direção do carro. Correr e andar por 55hs seguidas não era tão fácil quanto parecia. Além da dor muscular devido as subidas que não eram íngremes, mas que eram muito longas.
Por volta do meio dia, sob sol forte, chegamos num lugarejo para abastecer o carro de gelo e água. Qualquer lugar do deserto que tenha um ponto de conveniência é importante. Era necessário abastecer com água e gelo nos poucos pontos de abastecimento no deserto, por esta razão o carro estava cheio de cooler e alimento.
Na corrida, ora eu estava a dirigir o carro de apoio, ora estava correndo observando a paisagem que em nada mudava da sua cor cinza, mas quando eu via o rosto dos atletas correndo, a dor e o sufoco para suportar o calor, mais e mais admirava aquela raça de atletas da qual eu queria fazer parte.
Minha experiência na Badwater me diz que devo treinar mais e mais forte. Que devo ter dinheiro suficiente pra fazer esta prova e pra isso terei que trabalhar dobrado, vender tudo que puder de imóveis e fzer uma reserva antecipada, um plano logístico perfeito para me atrever a fazer Badwater.
A experiência valeu. Ao ver Mônica chegar aos 55hs no MT. Whitney, chorei de alegria. Literalmente saímos do inferno e entramos no paraíso em volta de montanhas cujos picos são brancos como a neve. É um contraste que só podemos dizer que ali um arquiteto muito habilidoso desenhou a estrada do deserto e seu local de chegada que , para quem correu tudo isto, é um verdadeiro paraíso.
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